O educando na visão social espírita



Marcos Alberto de Mario
A VISÃO DA SOCIOLOGIA
Segundo a moderna Sociologia, nos estudos ontológicos (teoria do ser) que faz sobre a sociedade e os indivíduos, o social está nos indivíduos, ou seja, a sociedade é não apenas a soma dos indivíduos, mas a consciência coletiva dos indivíduos, já que estes não perdem sua individualidade. O indivíduo age no social como o social age no indivíduo. As identidades são mantidas, embora se relacionem e se influenciem. E por que o indivíduo mantém sua individualidade? Porque possui a personalidade, cujos componentes são normalmente assim classificados:
  1. Fatores biológicos (biótipo);
  2. Grau de desenvolvimento biológico (idade);
  3. Fatores biológicos adquiridos: alimentação, bebidas, tóxicos, doenças, etc.;
  4. Fatores psíquicos (tipo psicológico);
  5. Fatores psíquicos adquiridos: automatismos, complexos, vivências, etc.;
  6. Fatores sociais e culturais.
A Sociologia considera o indivíduo e a sociedade apenas do ponto de vista desta existência, de uma única vida que nos é dada, portanto, sua posição é materialista.
Desse modo, o educando precisa ser preparado para a vida, esta única vida física, sendo formado por três elementos básicos:
  1. Os fatores biológicos – temos a influência do corpo;
  2. Os fatores psicológicos – estruturas do passado e do presente;
  3. Os fatores sociais e culturais – influência da cultura, da mídia e do grupo social.
A formação intelectual do educando é prioritária.
Não resta dúvida serem os três fatores apontados pela Sociologia importantes na composição do indivíduo, mas não respondem pelo ser integral, como facilmente podemos verificar na história humana e nas pesquisas atuais sobre o psiquismo.
A Doutrina Espírita possui uma visão mais ampla ao relacionar a esses três fatores apontados pela Sociologia mais dois fatores: o fator espiritual e o fator reencarnação.
A VISÃO DO ESPIRITISMO
No livro "Obras Póstumas", encontramos nas páginas 239 a 245, 26ª edição da FEB, o ensaio As Aristocracias, de Allan Kardec, que nos permitimos estudar de forma mais didática, onde encontramos uma posição lúcida sobre o indivíduo e a coletividade de acordo com os princípios espíritas, ampliando a visão sociológica do ser e da sociedade.
Diz-nos Kardec que em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte:
ü  homens incapazes, que precisam ser dirigidos;
ü  homens fracos, que reclamam proteção;
ü  paixões, que exigem repressão.
A autoridade, ou seja, a necessidade de liderança social investiu desse poder, sucessivamente:
(1°) o ancião (patriarca), pela sua experiência;
(2°) o chefe militar, pela sua força e inteligência;
(3°) o descendente, pela sua herança final.
A conservação do estado de força e privilégios foi feita através das leis, mas o tempo, com a conseqüente necessidade de busca de recursos para sobrevivência, fez com que os dominados se insurgissem contra os dominadores. É a evolução, princípio básico da lei divina. Entretanto, uma nova autoridade surgiu: o dinheiro, mas por pouco tempo, pois que para adquiri-lo é preciso inteligência, que nos nossos dias é a autoridade estabelecida, chamada pelos pensadores atuais de conhecimento.
A inteligência, por si só, não equilibra o homem. O bom uso das faculdades depende da moral, que também não pode ficar isolada. A união da inteligência com a moral representa a verdadeira autoridade.
Homens moralizados e instruídos implantarão o reino do bem na Terra.
*                   Princípio Moral - Sentimento (de justiça, de caridade)
"Entre os maus, muitos há que apenas o são por arrastamento e que se tornariam bons, se observassem bons exemplos, desde que submetidos a uma influência boa."
O que temos de combater são os "vícios do caráter: o orgulho, o egoísmo, a cupidez com seus cortejos".
A causa capaz de apressar o progresso humano é o Espiritismo, por ser uma doutrina de educação.
O Espiritismo, aplicado:
  1. Promove a fraternidade humana;
  2. Demonstra que as provas da vida atual são a conseqüência lógica e racional dos atos praticados nas existências anteriores;
  3. Faz de cada homem o artífice voluntário da sua própria felicidade;
  4. Eleva sensivelmente o nível moral.
"Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele (o Espiritismo): Não há fé inabalável, senão a que possa encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não basta ver, é, sobretudo, preciso compreender."
A VISÃO EDUCACIONAL ESPÍRITA
Essa nova ordem de idéias que o Espiritismo nos apresenta no campo sociológico modifica a visão educacional do homem, já que, como doutrina de educação, o Espiritismo considera o homem como ser criado por Deus, com a finalidade de se aperfeiçoar e contribuir na obra da criação. O homem é espírito-perispírito-corpo, sendo imortal, estando sucessivamente em dois estágios distintos:
  1. Desencarnado, no mundo espiritual;
  2. Encarnado, no mundo físico.
O perispírito é o elo de ligação entre os dois estágios, interagindo com a mente e o processo orgânico do corpo.
Ao estar encarnado não é esta a primeira existência do homem, pois que já as teve anteriores, trazendo delas tendências e idéias inatas.
Cabe à educação:
  1. fortalecer e ampliar as boas tendências do Espírito;
  2. corrigir suas más tendências;
  3. direcionar seu caráter para o bem;
  4. promover o esforço para conquistar virtudes;
  5. ampliar os horizontes intelectuais.
O educador espírita deve manter o diálogo aberto; estimular o educando a fazer uso de suas potencialidades; deve dar-lhe instrumentos que possibilitem a sensibilidade do sentimento e fornecer-lhe a aplicação prática dos princípios de vida oferecidos pelo Espiritismo.
Na medida do possível, objetivando a educação integral do ser, deve procurar unir a família ao processo educacional da escola, tendo sempre em mente que vida é educação e, portanto, a coletividade, a família, a escola, o trabalho, a sexualidade, enfim, tudo o que faz parte da existência terrena educa, na medida em que promovemos a integração do homem consigo mesmo, tornando-o consciente de si, de sua perfectibilidade, e também sua integração com o próximo e com Deus, nosso Pai.
O homem educado no bem e para o bem, numa palavra, moralizado, terá consciência de como deve proceder, segundo o conselho do apóstolo Paulo de Tarso: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém."
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