Não
devemos temer a morte; devemos temer, antes, uma má vida, que é pior que a
morte.
A
morte não é a da matéria, porque o que se dá nesse caso não é uma morte no
sentido de fim; mas uma transformação. A nossa matéria ressurge então sob nova
forma, assim como o grão que, aparentemente morto quando enterrado na cova,
ressurge para o bem do próprio homem.
A
verdadeira morte é a morte moral, essa que mata o conceito e liquida a
credibilidade do homem; que traz o remorso que aniquila a consciência; que faz
com que o homem se envergonhe de se olhar num espelho.
Teme
mais a morte do corpo aquele que já se acha moralmente morto; o que se
envergonha do presente e teme o futuro, porque tem contra si o libelo dos
próprios atos, da conduta reprovável.
Quer
dizer, o que leva o homem a temer a morte, a apavorar-se diante da idéia de
morrer, não é simplesmente o instinto de conservação, nem a ignorância em
relação à vida. É acima de tudo a consciência culpada.
Os
mártires caminhavam para morte sem medo, transbordantes de esperanças, cantando
até, tal como ocorreu com os primeiros cristãos levados às feras nos circos e
às fogueiras da Inquisição.
Já
os grandes tiranos, os grandes culpados sempre fugiram e ainda fogem hoje da
morte. A ameaça da morte os atormenta em todos os tempos. Consta que a toda
poderosa Elizabeth da Inglaterra, que mandara decapitar a prima Maria Stuart,
da Áustria, oferecia no leito de morte todo o seu reino por mais um minuto de
vida. Nuremberg até hoje procura os exterminadores de judeus, os responsáveis
pelos grandes holocaustos e genocídios, que escreveram com sangue as páginas de
horror da história da humanidade. Estes já estão moralmente mortos, punidos
pelo tribunal da própria consciência culpada.
A
morte é diferente, porém, nas expectativas do homem de consciência limpa. O
mártir Sebastião não a temeu. E, mesmo tendo que a enfrentar, mais cedo ou mais
tarde, quer na quitação dos débitos, quer nas imposições do testemunho de sua
fé e do ideal superior, ele saberá repetir com toda a força da alma o desafio
que Paulo lançou para sempre, através do capítulo 8,55 da sua primeira epístola
aos Coríntios: “Ò morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu
agulhão?”
Deocleciano
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