Sergio Fernandes
Aleixo
Em meio à crescente proliferação de doutrinas exóticas no seio mesmo do
nosso movimento, sobremodo nos preocupam aquelas cujo resultado é a deturpação
da legitima visão espírita de Jesus de Nazaré.
Ao contrário do que a negligência de muitos confrades pode supor, Allan
Kardec deixou-nos bem definida a concepção espírita sobre a natureza do Cristo,
quer física, quer, sobretudo, espiritualmente.
No comentário ao nº 226 de O Livro dos Espíritos, o codificador estabelece
que, quanto ao estado no qual se encontram, os espíritos podem ser encarnados,
errantes ou puros. Acerca dos puros, dizem os espíritos superiores: "Não são
errantes... Esses se encontram no seu estado definitivo."
Tal é a condição espiritual de Jesus: a dos espíritos puros, ou seja, a dos
espíritos que "percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as
impurezas da matéria" (Ob.cit.,nº 113). Apesar de integrar o número dos que "não
estão mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis", dos que "realizam a
vida eterna no seio de Deus" (id. Ibid.), entre nós, por missão, o mestre
encarnou-se. Conforme o nº 233 de O livro dos espíritos esclarece, "os espíritos
já purificados descem aos mundos inferiores", a fim de que não estejam tais
mundos "entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los".
É bem verdade que no comentário ao nº 625 da mencionada obra, Allan Kardec
apresenta Jesus como "o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar
na Terra", em quase exata conformidade com o que diz sobre os espíritos
superiores, os quais, segundo ele: "Quando, por exceção, encarnam na Terra, é
para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que
a humanidade pode aspirar neste mundo" (nº 111).
Cumpre-nos salientar que na doutrina espírita o rigor do conceito de pureza
se concentra na expressão "puro espírito", que Kardec explicou ser o estado dos
seres que tradicionalmente são chamados "anjos, arcanjos ou serafins";
entretanto, com isso, não quis o codificador estabelecer a existência de
gradações no estado de pureza espiritual; basta confrontarmos o item 111 com o
item 226 de O livro dos espíritos.
Contudo, o sacrifício tipicamente missionário de um retorno à Terra, mesmo
quando já não há necessidade desse tipo de experiência para evoluírem, é
meritório aos espíritos superiores, do ponto de vista de sua progressão, pois
não integram ainda a classe dos puros espíritos, não se encontram ainda no seu
"estado definitivo".
Alguns entendem que este seria o caso de Jesus de Nazaré. Ele teria
atingido a perfeição, ou, quiçá, um grau evolutivo mais alto entre os filhos do
homem somente após o cumprimento de sua missão, o que, alias, é sugerido pelo
autor da Epístola aos hebreus, o qual entende que Jesus, por seus sacrifícios,
teria passado, de `sacerdote', à condição de `sumo sacerdote' da ordem de
Melquisedeque.
Não desposamos essa idéia, embora admitamos que não confronta com o ensino
de O livro dos espíritos, no qual, de fato, Jesus figura ainda como espírito
superior; passível seria ele, portanto, de aperfeiçoamento.
A codificação espírita, todavia, não termina em O livro dos espíritos,
começa nele. Allan Kardec desenvolveu e aprimorou o conceito espírita sobre a
condição espiritual de Jesus como fez com relação a outros temas. Se não,
vejamos.
Já mesmo em O livro dos médiuns, obra que constitui, segundo o próprio
codificador, a seqüência de O livro dos espíritos, Allan Kardec passou a
classificar Jesus como espírito puro. Na nota que escreve à dissertação IX do
cap. XXXI, distingue, com absoluta clareza "os espíritos verdadeiramente
superiores" daquele que representa "o espírito puro por excelência", por
desvelada menção a Jesus Cristo.
Ora, Allan Kardec diz que tais espíritos, mesmo superiores, não têm as
qualidades do Cristo; de novo estabelece, portanto, diferença entre Jesus e os
espíritos superiores, como fez em O livro dos médiuns, na aludida nota à
dissertação IX do cap. XXXI. Isso tão- só porque os espíritos superiores ainda
não são puros.
Do livro: "Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus." -
Sergio Fernandes Aleixo, ed. Lachâtre
Extraido do site www.ade-rj.org.br
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