(Joy Zelonky )
Eu tinha medo de ser diferente demais das
outras crianças para poder ser feliz um dia.
Uso um aparelho auditivo porque ouço muito
mal. Quando era bem pequena, fui para uma escola especial, onde só havia
crianças como eu. Depois comecei a frequentar uma escola comum.
No primeiro dia de aula, estava tão nervosa
que mal consegui colocar o meu aparelho auditivo.
Minha mãe ajudou-me a encontrar
minha sala. Depois, foi para o trabalho.
__Olá – disse o professor, quase gritando. __
Sou o professor Vitor. Seja bem-vinda.
__Olá ! Hum... Professor Vitor,
não precisa falar tão alto. Nem tudo eu posso ouvir, mas posso ouvir bastante.
Ele sorriu para mim.
Esta é a kim – disse para as
outras crianças – Ela é sua nova colega.
A primeira aula foi de aritmética. O professor
Vitor escreveu no quadro e as crianças que sabiam as respostas levantaram a
mão.
Sou boa em aritmética. Logo
ergui a mão.
__ Kim?
__ Oito trando três são cinco.
A classe toda caiu na risada.
__ Está errado?
__ Está certo - disse o
professor, - Oito tirando três são cinco.
__ Tirando – repeti.
O professor Vitor começou a escrever outro
problema no quadro. Depois , com calma, virou-se para a turma:
__ Eu uso óculos – disse. –
alguns de vocês também usam. Os óculos nos ajudam a ver melhor.
Senti meu rosto corar
__ Os ouvidos de Kim não
funcionam tão bem quanto os nossos – continuou ele. – Ela usa um aparelho
auditivo para ouvir melhor, assim como nós usamos óculos para vê melhor. Mas,
mesmo com aparelho, há muitos sons que ela nunca ouviu. Isso pode tornar
difícil falar. Agora que expliquei,
espero que compreendam.
Ao mesmo0 tempo que fiquei
embaraçada, fiquei também contente porque o professor Vitor falou assim.
Detesto que riam de mim.
Na hora do lanche, um menino chamado Erick
sentou-se ao meu lado.
__ O que é essa coisa no seu
ouvido?
__ É parte do meu aparelho
auditivo, chamado molde de ouvido. Faz os sons ficarem mais altos.
__ Oh, é mesmo? Pensei que você era um robô.
Levantei-me:
__ Vejam só quem fala! E você
que tem a boca cheia de metal?
__É o aparelho pra corrigir os
dentes... – ia dizendo Erick, mas eu já estava saindo da sala.
Naquela noite, tive uma longa
conversa com mamãe, enquanto trabalhávamos em nossa colcha.
__ Sou a única pessoa no mundo
com um aparelho auditivo – queixei-me. – E todos me tratam de maneira diferente
por isso.
__ Todas as pessoas têm algo
diferente nelas – respondeu mamãe. —Tudo que precisam fazer é acostumar-se umas
com as outras. [...]
No dia seguinte eu estava no
recreio quando uma bola caiu aos meus pés.
__ Machucou? –gritou Erick, aproximando-se.
Eu quase respondi: “! Por quê? Estava
tentando?”
Em vez disso, joguei a bola para ele e disse:
__ Errou por pouco.
Ele se aproximou:
__ Posso ver seu aparelho
auditivo?
O molde do ouvido fez um ruído
sibilante quando Erick o examinou. Ele esperou até eu recoloca-lo no ouvido e
disse:
__ É
realmente interessante. Sabe, no princípio achei você muito esquisita. Mas
agora,bem, estou contente porque está na minha classe.
__ Obrigada. É difícil explicar
mas acho que sou um pouco diferente...
__ Você não ouve nada sem o
aparelho?
__ Ouço um pouco. Ponha as duas
mãos sobre os ouvidos e tente ouvir assim.
Erick experimentou.
__ Dá pra ouvir, mas mal.
__ É assim que eu ouço.
__ Bom, você não é mais
diferente do que eu, que uso aparelho nos dentes – disse Erick.
__ Ou do que eu, que sou tão
alta – disse uma menina chamada Sasha.
__ Ou do que eu ,que sou filho
adotivo – disse um outro menino, aproximando-se.
__ Ou do que eu, que não tenho
televisão em casa.
De repente, estávamos cercados
por uma porção de crianças, cada uma querendo contar a sua diferença.
O sino tocou.
Quando saímos correndo para a
aula,eu fui reparando como cada criança corria de um modo diferente das outras.
Não saí da escola, claro.