Era dia de Natal.
Didi e Dedé, dois irmãos gêmeos, olhavam, encantados, as lindas cestas que,
dentro de alguns instantes, vovó iria distribuir à criançada que reunia em sua
casa em todos os Natais.
Eram mesmo lindas as cestas! Ali estavam alinhadas sobre uma grande mesa,
como se fossem soldadinhos à espera da voz de comando da vovó, para marcharem
até às mãos dos pequeninos. Barulhentos e alegres, rodeavam a grande mesa,
procurando cada qual chegar mais perto.
- Tomara que eu ganhe aquela que tem o Papai Noel montado no burrinho! -
dizia uma vozinha esganiçada.
- Eu quero a que tem aquele pacote vermelho de balas - falava um rapazinho
de olhos buliçosos.
- E eu, aquela que tem bastante chocolate - explicava um sardento ruivinho,
de nariz arrebitado.
E, assim, cada qual procurava externar seus desejos, na esperança de
conseguir a cesta visada.
Só Didi e Dedé é que permaneciam calados; contudo, olhavam muito para duas
cestas colocadas num dos recantos da mesa. Não eram as mais bonitas, nem as
maiores! Por que seria, então, que eles não afastavam os olhos delas? É que em
cada uma havia um saco plástico com uma bonita bermuda vermelha!
- "Oh! Que bom se uma daquelas cestas fosse para mim!", pensava Didi, com
os olhos brilhando de prazer.
- "Ah! Se me tocasse uma destas cestas!", suspirava Dedé. "A coisa que eu
mais desejo: uma bonita bermuda vermelha."
E lá estava toda a criançada em volta da mesa, em grande expectativa!
Foi quando a porta da sala se abriu e vovó entrou.
Sorrisos,... palmas,... cochichos,... cotoveladas e maior aproximação da
mesa. Mas vovó falou:
- Não fiquem aí grudados na mesa! É cedo ainda! Primeiro, vamos cantar
perto da árvore.
Os pequeninos se olharam,... porém, não se animaram a sair de seus lugares.
Vovó sorriu, bondosa:
- Vamos, filhos! Vamos cantar em homenagem ao Natal. Jesus ficará
contente!
Então a meninada, a um só movimento, correu para a linda árvore que
enfeitava o outro extremo da sala.
Vovó deu um sinal e começaram a cantar:
"Óh! Árvore!
Óh! Árvore,
Pinheio de Natal!"
Que bonitas as vozes dos meninos! E como cantavam bem! Quando pararam,
houve uns momentos de silêncio. Vovó estava comovida e os próprios pequenos,
também. Depois, a um novo sinal, cantaram animadamente:
- "Delém! Delém! Sininhos
Alegres a tocar..."
Ao terminarem, as crianças tinham as faces coradas e os olhos sorridentes.
A alegria do Natal estava mesmo no coraçãozinho de cada um!
Então, vovó falou:
- Jesus deve estar contente com vocês. Cantaram muito bem. Agora, vamos
para a mesa!
Num instante, todos voltaram a seus lugares, rindo e falando ao mesmo
tempo. Depois, fizeram silêncio e vovó começou a distribuição.
- Zequinha! Juca! Joãozinho! - chamava à medida que ia entregando as
cestas.
Didi e Dedé tinham o coração em sobressaltos... Cada nome que vovó chamava
e cada vez que ela estendia a mão... Que susto! Pensavam logo que era a vez da
cesta cobiçada.
E vovó continuava a chamar:
- Paulinho! Joça! Antoninho! Didi!
Didi deu um salto que provocou a risada da turminha. Nervoso, aproximou-se
depressa.
Dedé começou a "torcer", a "torcer"...
Vovó parecia estar em dúvida. Pegou uma cesta, examinou-a bem e largou-a;
pegou outra e mais outra,... até que segurou uma das que tinha a bermuda.
Deixou-a também de lado!
Didi ficou firme, não fez fiasco, não! Apenas tremeu-lhe a voz quando disse
"muito obrigado", ao receber a cesta que lhe tocara. E vovó continuou a chamar
até que chegou a vez de Dedé.
Nova torcida e nova decepção. As cestas das bermudas vermelhas ainda
permaneciam no extremo da mesa!
Dedé também aguentou firme. Seus olhinhos é que ficaram cheios de lágrimas
quando viu que as lindas bermudas não seriam suas. Contudo, agradeceu com
delicadeza à boa avozinha.
Quando terminou a distribuição, os dois gêmeos beijaram vovó e
encaminharam-se para casa. Iam calados, pensativos, cada qual procurando
disfarçar seu desapontamento. Então, Didi falou:
- Vozinha é muito bondosa! Deu uma das cestas com as bermudas ao Ronaldinho
que mora naquela casinha de madeira bem pequenina e tem muitos irmãos...
- É mesmo! - respondeu Dedé - A outra ela deu ao Beto de calças remendadas.
Eles precisavam mais do que nós. Vovó sabe mesmo o que faz!
E, olhando para as cestas que levavam, falou animado:
- Nossas cestas estão lindas! E como estão cheias! Ih! Quantos doces!
chocolates,... nozes,... balas,... tão cedo não comeremos tudo!
Didi concordou. Havia mesmo muita coisa boa naquelas cestas.
Os dois gêmeos continuavam a examinar os lindos e saborosos presentes,
quando notaram algumas crianças sentadas à beira de uma calçada. Eram magras,
maltrapilhas e pareciam famintas. Nada disseram quando Didi e Dedé passaram;
somente olharam com tristeza para os pedaços de pão duro e velho que traziam nas
mãos.
- Coitadinhos!, pensaram os gêmeos, enquanto andavam. "Comendo pão duro no
dia de Natal!" Pararam. É que ambos tiveram a mesma ideia! Olharam-se, olharam
para as cestas. Dedé falou, ainda meio hesitante:
- E se déssemos alguns doces para eles? Temos tantos!
- Acho que gostariam muito. Coitados! Parece que não ganharam nenhum
presente hoje! - respondeu Didi.
- Então vamos voltar - disse Dedé, entusiasmado. - Damos um pouco de nossos
doces e ficaremos ainda com bastante.
Os dois voltaram e, endereçando um sorriso de amizade às crianças
maltrapilhas, falaram com bondade.
- Sabem? - disse Didi. - Hoje é Natal, por isso queremos dar a vocês alguns
docinhos. Tirem os que quiserem.
- Aqui também há bastante - explicou Dedé. - Podem tirar balas, chocolates,
nozes...
Mal terminaram de falar e já os meninos estavam comendo os apetitosos
docinhos. E como comiam com vontade!
- "Estavam mesmo com fome!", pensou Dedé.
- "Parece que nunca haviam comido essas coisas boas!", pensou Didi.
E ambos tão felizes estavam ao verem como os meninos se tornavam alegres à
medida que saboreavam os doces, que nem se apercebiam que as cestas iam ficando
vazias...
Quando o grupinho se afastou, cheio de felicidade e muito agradecido,
examinaram, então, o que havia sobrado.
- Ui! - exclamou Didi, surpreendido e meio desapontado. - Só me restam
alguns pãezinhos!
- A minha cesta está quase vazia! - disse Dedé, também com um certo
desapontamento. - E eu pensava que durante toda a semana teria coisas boas para
comer!
E os dois remexiam as sobras das cestas, fazendo cálculos sobre o que
possuía ainda cada uma. De repente:
- Que é isto? - gritou Dedé, muito agitado.
- Que coisa é esta? - perguntou Didi, meio nervoso.
E cada qual tirou do fundo de sua cesta um pacote dourado. Abriram. Oh! Que
surpresa! Em cada um deles estava uma bermuda vermelha bem igual àquelas que
tanto haviam desejado!
Didi e Dedé nem podiam falar, tão emocionados ficaram. Olhavam e tornavam a
olhar as bermudas. Depois, percebendo que estavam chamando a atenção dos que
passavam, guardaram as bermudas nas cestas.
- Como vovó é bondosa! - falou Dedé. - Ela queria nos dar uma
surpresa!
- É mesmo! Vozinha é mesmo bondosa! Vamos voltar para agradecer-lhe? -
propôs Didi.
O irmãozinho concordou e ambos voltaram muito felizes.
Vovó ficou muito surpreendida quando os viu de volta e com as bermudas nas
mãos.
- Como?! - perguntou ela, admirada. - Já descobriram a minha surpresa?
Estavam bem no fundo e havia muita coisa para comer...
Então, Didi e Dedé, meio encabulados, contaram o que tinha acontecido com
os doces, chocolates, balas e nozes. E vovó ficou muito feliz, muito feliz! Tão
feliz que abraçou muitas vezes os netinhos queridos, dizendo-lhes com
ternura:
- Muito bem, filhinhos, muito bem! Vocês comemoraram o Natal da maneira
mais linda que se pode imaginar! Estou muito contente, muito contente
mesmo!
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