O BESOURINHO AZUL
Há muito tempo, num país chamado Insetolândia, reinava um soberano muito
bom, mas muito triste. Este rei era um besouro que se destacava dos demais por
seu tamanho e pela cor azulada de suas asas.
O rei Besouro morava no alto de um morro, num palácio dourado cercado por
um lindo parque. Havia árvores muito altas e verdes, as mais raras flores e um
grande lago de águas cristalinas.
O lugar era maravilhoso! Mas, apesar disso, seus moradores viviam tristes e
nunca sorriam. Sabem por quê? Porque os soberanos não tinham um herdeiro, não
tinham um filhinho! Por isso estavam todos tristes.
Certa manhã, porém, o sol brilhou com mais intensidade, as flores ficaram
mais perfumadas, o céu parecia estar mais azul e... todos sorriam!
É que no palácio dourado havia nascido um lindo besourinho de asas
azuis!
Ninguém cabia em si de contentamento. Todos corriam para ver e servir o
herdeiro tão esperado. As formigas pretas, encarregadas de velar pelo
principezinho, riam e choravam ao mesmo tempo, de tão felizes que estavam.
Foi nesse clima de carinho e alegria que Besourinho Azul cresceu. Suas asas
transparentes e da cor do céu ficaram fortes, prontas para o voo.
Numa tarde cheia de sol, o príncipe saiu para fazer o primeiro
passeio.
Depois de voar por todo parque, chegou ao lago. Desceu no tapete de relva e
lá ficou olhando para as florzinhas que lhe sorriam e se faziam mais perfumadas
para agradá-lo, quando ouviu uma voz fraca e rouca que lhe dizia:
- Besourinho... Besourinho Azul...
Virou-se ligeiro. Muito admirado, viu um grilo bem velho que, apoiado num
bastão, lhe falou assim:
- Eu sou Dom Grilo Verde, encarregado de educar-te. O rei falou-me para que
te ensinasse tudo o que sei. Todos os dias teremos lições aqui, à beira deste
lago. Ficarás conhecendo coisas bonitas e interessantes e serás um príncipe de
grande sabedoria.
Besourinho arregalou os olhos, bateu as asas e perguntou:
- Quando começarei a estudar?
Dom Grilo Verde respondeu:
- Amanhã, a esta mesma hora, eu te esperarei aqui.
E assim dizendo, cumprimentou o principezinho e retirou-se.
Besourinho Azul ficou calado, olhando o futuro professor que se afastava.
Não estava nada satisfeito em ter que estudar, aprender a ler... Que coisa
aborrecida! Para que aprender? O que ele queria era conhecer bem aquele lindo
parque... Isso é que seria divertido!
E, pensando dessa maneira, Besourinho resolveu aproveitar as horas que lhe
restavam.
Brincou muito entre as árvores e flores. Voava alto, alto, tentando
aproximar-se do Sol. Por fim, o Sol já cansado de tanto brilhar, decidiu
recolher-se. Dona Lua começou a aparecer como um disco prateado e as
Estrelinhas, aos poucos, foram pontilhando o céu.
Besourinho Azul, que não esperava por isso, passou a sentir medo. Procurou
umas formiguinhas para brincar, mas elas não podiam. Trabalhavam
incessantemente, armazenando gêneros para o inverno. Procurou uma rãzinha na
beira do lago, mas esta não o atendeu e, ao vê-lo, jogou-se na água para cuidar
de suas irmãs.
Besourinho Azul voava, voava, quando ouviu, no meio da mata, um barulhinho
esquisito. Desceu para ver o que era e, com surpresa, viu Dom Grilo Verde dando
uma aula para alguns grilinhos, vaga-lumes e formiguinhas. Todos escutavam com
atenção as palavras do professor.
O principezinho resolver escutar também. Muito admirado ficou. "Quantas
coisas interessantes há para aprender...", refletiu.
Tomou então uma decisão: iria estudar, e não só conhecer aquele parque.
Queria, sim, aprender tudo o que o professor sabia. Sentiu-se triste por não
saber nada...
Besourinho Azul começou a retirar-se sem fazer ruído, para não perturbar a
aula. Ia levantar voo, quando sentiu que uma perna estava presa num dos ramos.
Puxou-a com força, mas não conseguiu sair. A perna doía muito. A noite estava
escura e fria. Ele sentia fome e saudade dos pais. Passou a chorar
baixinho.
De repente, viu-se rodeado de grilos e pirilampos. Ouviu uma vozinha rouca
que lhe perguntava:
- Por que estás chorando, Besourinho Azul?
- Estou perdido na mata e machuquei minha perna... - disse ele, vendo o
professor.
Dom Grilo Verde, muito bondoso, prontificou-se logo a levá-lo em casa. E,
depois de fazer um curativo na perna do pequeno príncipe, dirigiram-se para o
palácio dourado. Os vaga-lumes iam à frente com suas lanterninhas para iluminar
o caminho.
Grande foi a alegria dos soberanos quando viram o filho que julgavam
perdido.
Foi uma verdadeira festa a chegada de besourinho! A tristeza de todos se
converteu em alegria. Todos sorriam novamente e Dom Grilo era homenageado por
ter trazido o principezinho.
Quando o bondoso professor ia retirar-se, Besourinho Azul voou até ele e
muito compenetrado, disse-lhe ao ouvido:
- Não se esqueça de que amanhã teremos lição na beira do lago.
Dom Grilo olhou para o Besourinho, alisou-lhe as bonitas asas, bateu seu
bastãozinho no chão e saiu feliz, muito feliz mesmo.
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