do livro Conte Mais - Vol. 2 - FERGS
Era um dia muito bonito. O céu bem azul, o sol brilhava, iluminando
tudo.
Jair, um lindo menino de 7 anos, pediu à mamãe e saiu para apanhar goiabas
no campo. Quando já estava voltando, achou uma pombinha com a asa quebrada. Que
fez ele, então? Trouxe a pombinha para casa e ligou-lhe cuidadosamente a asa,
unindo-a bem ao corpo, com uma tira de pano.
Em poucos dias, a asa sarou e a pombinha pôde voar como antes. Mas, qual
não foi a surpresa de Jair! A pombinha não quis ir embora. Tinha sido tão bem
tratada que ficou mansinha, mansinha.
Jair sentiu-se muito feliz! Toda vez que saía para apanhar goiabas lá ia
também a pombinha pousada no seu ombro. Jair deu-lhe um nome - Catita. Quando a
chamava para comer, ela atendia logo e corria a bicar o que o menino lhe
apresentava na mão.
- Catita é mesmo minha amiga! - dizia Jair, todo faceiro, ao acordar pela
manhã, vendo a pombinha empoleirada na cabeceira da cama.
Passado algum tempo, a mãe de Jair ficou muito doente e fraca, e como
viviam sós e eram muito pobres, a vizinha chamou um médico para vê-la.
Depois de examiná-la, o doutor tirou da maleta umas caixas de remédio e
falou, preocupado:
- A senhora vai tomar estes medicamentos de acordo com a orientação que eu
vou lhe dar. Mas a senhora precisa se alimentar, tomar canja de galinha, caldos
fortes...
Depois de escrever as recomendações necessárias, o médico despediu-se e
saiu.
Jair ficou só com a mãe. Viu-a pálida, fraca, abatida. Ouvira o que o
médico havia dito. Sabia que ela precisava alimentar-se melhor... Mas como?
Havia apenas alguns reais na gaveta. Como comprar galinha para fazer uma
canja?
Então, Jair sentiu um nó na garganta e afastou-se do quarto para que a mãe
não notasse a sua aflição. Correu para o quintal e começou a chorar.
É que ele avistara sua Catita, gordinha, forte... E sempre ouvira dizer que
caldo de pomba era muito bom para os doentes.
Jair chorava cada vez mais. Tinha de sacrificar sua Catita para salvar a
mãe!
Enquanto isso, a pombinha, como se quisesse consolá-lo, pousava-lhe no
ombro, na cabeça, nas mãos...
Por sua vez, Jair, em soluços, afagava-lhe as penas, com imensa tristeza,
como se lhe pedisse perdão pelo que tencionava fazer, quando ouviu:
- Que é isso, Jair, por que choras tanto?
Era a boa vizinha que havia chegado.
- É que... É que... - gaguejava Jair - a mamãe precisa de um caldo forte...
Não temos galinha... nem carne...
A vizinha logo compreendeu.
- E você vai sacrificar a Catita para fazer o caldo?! - perguntou
ela.
Jair fez "sim", sacudindo a cabeça.
- A senhora sabe, gosto muito da Catita, mas eu amo muito a minha mãe,
quero que ela sare logo.
Então a vizinha, muito emocionada, falou:
- Não se preocupe, garoto. Eu vou cuidar da sua mãe. Já mandei preparar um
bom caldo. E ela irá tomar ainda muitos outros caldos, mas não da sua
Catita.
Que alívio sentiu Jair! Que alegria! Muito agradecido, beijou a boa vizinha
que não o deixara sacrificar a pombinha amiga, prometendo ainda cuidar da mãe,
sua grande e maior amiga.