Nosso Lar III - MÉDICO ESPÍRITUAL


          No dia imediato, após reparador e profundo repouso, experimentei a benção radiosa do Sol amigo, qual suave mensagem ao coração. Senti-me outro. Energias novas tomavam-me o intimo. Na alma, apenas um ponto sombrio- a saudade do Lar, o apego à família que ficara distante.
          Assim pensando, vi a porta se abrir e entrar Clarêncio, acompanhado por simpático desconhecido. Cumprimentaram-me atenciosos, desejando-me paz. Tratava-se do irmão Henrique de Luna, do Serviço de Assistência Médica da Colônia Espiritual. Henrique auscultou-me demoradamente, sorriu e explicou.
          _É de lamentar que tenha vindo pelo suicídio. _Suicídio? Recordei os seres perversos da sombra. Creio que haja engano - asseverei melindrado- meu regresso do mundo físico, não teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias na casa de saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão intestinal...
          _Sim esclareceu o médico, demostrando a mesma serenidade superior- Mas a oclusão radicava-se em profundas causas. Talvez o amigo não tenha ponderado bastante.
          O organismo Espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo. E inclinando-se atencioso, indicava-me determinados pontos do meu corpo. Vejamos a zona intestinal. A oclusão deriva-se de elementos cancerosos e estes por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão, no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse características tão graves, se o seu procedimento mental no planeta estivessem enquadrados no princípio da fraternidade e da temperança. Entretanto seu modo especial de conviver muita vez exasperado e sombrio, capitava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam.
          Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para vós mesmo? A ausência de auto domínio, a inadvertência no trato com os semelhantes, aos quais muitas vezes ofendem sem refletir, conduziam-no freqüentemente á esfera dos seres doentes e inferiores. Tal circunstancias agravou, de muito o seu estado físico. Depois de uma pausa observou,- Já notou meu amigo, que seu fígado foi maltratado pela sua própria ação? Que os rins foram esquecidos com terrível menosprezo ás dádivas sagradas.
          Singular desapontamento invadiram-me o coração e o médico continuava esclarecendo:
          _Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os designo do Senhor. O amigo no entanto, iludiu excelentes oportunidades, e ter esperdiçado patrimônios preciosos da experiência física Todo aparelho gástrico foi destruído á custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.
          Meditei nos problemas dos caminhos humanos, refletindo nas oportunidades perdidas. Na vida humana, conseguia ajustar numerosas mascaras ao rosto talhando-as conforme as situações. Alias, não podia supor que me seriam pedidas contas de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem a maior significação. Deparava-me agoira, outro sistema de verificação. Não me defrontavam tribunais de tortura, nem surpreendiam abismos infernais, contudo benfeitores Espirituais sorridentes, comentavam-me as fraquezas como quem cuida uma criança desorientada, longe das vistas paternas.
          Doía-me a vergonha, e chorei; não havia como discordar, havia sobejas razões. Era verdadeiramente um suicida. Não passava de um naufrago a quem se recolhia por caridade. Foi então que Clarêncio, afagou-me paternalmente.
          _Ho! meu filho, não te lastimas tanto. Busquei-te atendendo à intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Acalma-te, Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda as bênçãos do remorso, sem esquecer que a aflição não revolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação. Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos igualmente nos teus caminhos.

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